Voltz: atrasos nas entregas da 'Tesla das motos elétricas' deixam clientes insatisfeitos

Em reportagem do MOTOO, consumidores relatam dificuldades enfrentadas com a marca. Voltz atribui o não cumprimento dos prazos a efeitos da pandemia e cadeia de produção dependente da China
Gleidy Silva, de Sorocaba (SP) teve dificuldade em conseguir a documentação de sua Voltz EV1

Gleidy Silva, de Sorocaba (SP) teve dificuldade em conseguir a documentação de sua Voltz EV1 | Imagem: Arquivo Pessoal

A Voltz Motors se tornou referência em motos elétricas no Brasil em pouco tempo. Lançada no mercado em 2019, a empresa brasileira foi a primeira a se consolidar no segmento com seus inovadores modelos EV1 Sport e EVS.

Em 2022, a fabricante vive seu auge, com recorde de vendas e a aproximação de uma etapa muito importante para o negócio: a inauguração de sua fábrica em Manaus, programada para o final de maio. Muito ativa nas redes sociais, a Voltz não tem apenas clientes; os usuários ganharam até uma identidade e são chamados de “Volterz”.

Dentro de muitos comentários positivos sobre a marca, cada postagem no Instagram, Facebook e Twitter também costuma vir acompanhada de reclamações de quem comprou ou reservou um produto da Voltz. A principal queixa está relacionada ao prazo de entrega das motos. O MOTOO entrevistou alguns clientes da marca que confirmam que o tempo de entrega foi adiado diversas vezes. Além disso, também há relatos de dificuldade em efetivar a documentação das motos após a compra.

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Em resposta, a Voltz atribuiu os atrasos aos efeitos da pandemia e uma cadeia de produção totalmente dependente da China (leia aqui a entrevista completa da Voltz). 

“Várias empresas perderam o ‘time’ de produção e descumpriram prazos com seus clientes [por causa da pandemia]. Com a Voltz não foi diferente, atrasamos também. Mas erramos pela segunda vez em ser otimista e acreditar que as coisas iriam ‘entrar nos eixos’ novamente. Não entrou e novamente atrasamos o prazo combinado”, disse a empresa, em comunicado ao MOTOO.  

A indústria de motos brasileira tem sido afetada ainda por efeitos da Covid-19. Segundo a associação das fabricantes de motos do Brasil, a Abraciclo, do qual a Voltz não é integrante, a fila de espera para motos de baixa cilindrada e scooters é de 1 mês.  

Para a Voltz, a expectativa é que com o funcionamento da fábrica as entregas devam se normalizar até outubro. Entre as iniciativas da Voltz para os clientes afetados está o fornecimento de vouchers para uso dos apps 99 e Uber. A fabricante também diz que interrompeu as vendas, e o consumidor pode agora apenas reservar as motos por R$ 500

Nota 5,5 no Reclame Aqui

Um termômetro sobre o desempenho de empresas no Brasil, o site Reclame Aqui é utilizado por consumidores que tiveram alguma experiência indesejada com empresas de todos os tipos. Na plataforma, a Voltz Motors aparece com nota 5,5, com referência inicial de maio de 2019 o que é classificado como “ruim” pelo índice do Reclame Aqui. Vale um destaque que a empresa tem 97,2% das reclamações respondidas, porém, 56,6% dos casos foram solucionados.

“Sempre deixamos claro que erramos por excesso de otimismo, erramos em acreditar que a pandemia e fatores externos de logística e mercado internacional não poderiam atrapalhar como atrapalhou nosso compromisso com os ‘Volterz’”, afirma a empresa. O maior fator de reclamações é o “descumprimento do prazo”, com 17% das causas, um total de 340 casos. Na sequência aparecem o “atraso com reembolso por cancelamento”, com 207 casos.

Motos elétricas da Voltz: vendas em alta
Motos elétricas da Voltz: vendas em alta
Imagem: Divulgação

‘Pronta entrega’ atrasada 

Um motociclista que ainda não recebeu sua Voltz é o empresário Renan Alves, de Araripe (CE). Ele adquiriu o modelo EV1 Sport em 12 de março, e havia prazo de 8 semanas para receber, porém quando o tempo estimado estava terminando, a empresa estendeu a entrega para julho. “Escolhi a cor branca que era que tinha disponível para entrega no prazo de 8 semanas, no e-mail recebido alegaram que o novo prazo de entrega era devido eu ter escolhido uma que não tinha em estoque, mas escolhi a que tinha ‘pronta entrega’ na hora da compra”, afirma Alves.

Ele conta que a ideia é que sua esposa use a scooter elétrica na cidade. “A expectativa era muito grande por conta da mobilidade elétrica, economia. Já tenho energia solar em casa, então isso ajudaria muito”, diz o empresário. Renan Alves resolveu cancelar a compra, em meados de maio. “A Voltz nos ligou, pediram desculpas e informaram que estavam trabalhando para atender. Pediram um voto de confiança e vamos esperar até o próximo mês”.

Renan Alves, de Araripe (CE), chegou a pensar em desistir da compra da EV1 Sport, mas segue aguardando o produto
Renan Alves, de Araripe (CE), chegou a pensar em desistir da compra da EV1 Sport, mas segue aguardando o produto
Imagem: Arquivo Pessoal

Enquanto não recebem sua EV1 Sport, a marca está dando um voucher para que possam usar o aplicativo da 99 como maneira de transporte. “Sabemos que o auxílio Uber e 99 é um paliativo e o que todos querem mesmo é a Voltz”, diz a fabricante, que afirma ter gasto cerca de R$ 3 milhões desde abril de 2021 com o auxílio. A empresa informa que oferece R$ 200 por semana para quem está com a moto atrasada e já pagou 100% do valor do produto.

Dificuldade com a documentação

A cuidadora de animais Gleidy Silva, de Sorocaba (SP), também passou por desencontros quanto ao prazo para receber sua EV1 Sport. “Fizeram dar continuidade no pagamento com a promessa que entregariam antes do Natal [de 2021], faturaram em novembro e entregaram só em janeiro”, conta.

“Chegou antes do prazo do que o vendedor tinha passado, mas bem depois do prazo da matriz”. Após receber a moto, Gleidy começou a ter problemas para conseguir a documentação. Primeiro, ela tentou fazer via internet, disponível pelo Detran-SP, mas sem sucesso. “Cansei fui procurar despachante e no dia seguinte já barro por divergência no cadastro da base BIN”. Essa é a Base de Índice Nacional do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) com as informações e características dos veículos, e seu primeiro registro é de responsabilidade das montadoras.

Loja conceito da Voltz
Loja conceito da Voltz
Imagem: Divulgação

“Foi quase 1 mês pedindo uma coisa básica que é obrigação da empresa fornecer, fiquei indignada com o atendimento prestado, estamos falando de uma empresa de nível nacional com um produto super bacana, mas o atendimento da matriz é péssimo”, afirma Gleidy.

No Reclame Aqui há relatos de mais pessoas que passaram por dificuldades semelhantes às da paulista. Em relação aos problemas na documentação, a Voltz disse: “Este problema não acontece mais. Atualmente todas as motos que saem do nosso CD (centro de distribuição), já saem com a BIN cadastrada e o ATPV (autorização Para Transferência de Veículo) Renave está sendo realizado em até 48h após os faturamentos”. 

O que mudará com a nova fábrica?

Prevista para começar a funcionar ainda em maio de 2022, a fábrica da Voltz tem uma capacidade mensal de produzir 15 mil unidades por mês. “Acreditamos que quando normalizar em outubro com a fábrica, teremos motos a pronta entrega para ser despachada para a casa do cliente. Então o prazo será o tempo de sair da fábrica até a residência”, afirma a empresa.

Voltz Motors, fábrica em Manaus
Voltz Motors, fábrica em Manaus
Imagem: Reprodução / Redes Sociais

A unidade da Manaus em Manaus, com 12.196 m², faz parte de um investimento de R$ 100 milhões anunciado em 2021 e liderado pelo grupo Creditas. Ao todo, 500 empregos foram gerados na fábrica.

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Por

Rafael Miotto

Com mais de 20 anos de experiência sobre duas rodas, já percorreu o mundo de moto, incluindo as desafiadoras estradas do Himalaia, na Índia. Como jornalista, cobriu várias edições dos maiores salões de motocicletas do mundo, como o EICMA e o Tokyo Motor Show.

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